domingo, 2 de dezembro de 2007

Revistas - Para todos os gostos



Existem revistas de nu artístico, pornografia, política, economia, esportes, música, animais, turismo, medicina etc. Entrar em uma banca de jornal é se deparar com um enorme cardápio de opções, digno dos melhores restaurantes da cidade. Que vão desde o gosto popular ao mais exótico. Quem não encontra algo para ler é por pura falta de interesse.

Numa época em que a Internet é o veículo de comunicação mais hypado, as publicações não param de surgir. Não é difícil explicar o fenômeno, embora conte com uma enorme popularidade a Internet ainda é inacessível a grande parcela da população, não possui a mesma credibilidade das publicações e as notícias são passadas de forma superficial, devido ao grande volume de fatos que chegam à rede em tempo real.

O mercado de impressos no Brasil é similar ao fonográfico. Como algumas bandas, certas revistas perduram por anos – “Veja”, “Superinteressante”, “Playboy”, “Istoé”, “Caras” etc. Outras permanecem em um cenário “underground”, não gozam de tamanha popularidade, porém contam com fiéis leitores – “Caros Amigos”, “Piauí”, “Carta Capital”, “Rock Brigade” (há mais de 20 anos a principal revista sobre música do país) entre outras. Tem espaço até para aquelas que fazem um enorme sucesso e depois acabam, caso da “Bundas”, idealizada por Ziraldo, que esgotou todos os primeiros exemplares no primeiro dia de venda, só que não durou mais de um ano.

Apesar de tantas opções e alguns números expressivos de vendagem, principalmente em publicações relacionadas à editora Abril, o preço não é agradável ao grande público. E piora quando comparamos com Estados Unidos e Europa, países em que custam em torno de 3 Dólares/Euros.

Com todos os revezes que poderiam existir, o mercado de impressos no Brasil continua forte, Talvez pela forte ligação que os brasileiros possuem com os jornais e revistas semanais, desde os primórdios do Jornal do Brasil e da Revista Cruzeiro. A morte da mídia impressa está bem longe e fora de foco, os pessimistas de plantão se esquecem que para todo tipo de arte há um público, e da mesma forma que o cinema não acabou com o teatro, dificilmente a Internet decretará o fim das revistas e jornais, afinal ambos oferecem algo impossível a tecnologia (pelo menos a atual) que é estar com você em qualquer lugar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Flamengo - imagens

Super-8 (ou Super 8 mm) é um formato cinematográfico desenvolvido nos anos 1960 e lançado no mercado em 1965 pela Kodak, como um aperfeiçoamento do antigo formato 8 mm, mantendo a mesma bitola.

O filme tem 8 milímetros de largura, exatamente o mesmo que o antigo padrão 8 mm, e também tem perfurações de apenas um lado, mas as suas perfurações são menores, permitindo um aumento na área de exposição da película, e portanto mais qualidade de imagem. O formato Super-8 ainda reserva uma área, no lado oposto ao das perfurações, onde uma pista magnética permite a gravação sincronizada do som.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Carrie, a estranha.

A década de 70 foi com certeza a melhor do cinema, vários gênios cinematográficos do século em pleno processo criativo, grandes atores despontando, estúdios pouco interferindo nos roteiros e o principal - público com uma cabeça mais aberta. Foi também na década de 70 que se deu início ao maior uso da violência, nudez e sexo nos filmes. Fruto de uma geração que pregou uma maior liberdade de expressão? Talvez.

No ano em que "Carrie" foi realizado, Brian de Palma e Stephen King eram duas estrelas em ascensão, no cinema e na literatura respectivamente. Esse filme acabou sendo o primeiro grande sucesso de De Palma e o primeiro livro de King a se tornar filme, depois do sucesso sucederam-se vários. Vale mencionar: "O Iluminado" de Stanley Kubrick.

No filme, Carrie White, uma colegial tímida, criada na ignorância sexual pela mãe (Piper Laurie), uma fanática religiosa. A garota surta quando menstrua pela primeira vez, tornando-se motivo de chacota das colegas de escola. Mas Carrie (Sissy Spacek) tem poderes telecinéticos, é capaz de mover objetos com o poder da mente. Então decide usar tal talento para se vingar daqueles que ela julga a terem feito sofrer.

Graças ao talento de Brian de Palma esse é um grande filme, usar uma obra do mestre do medo - Stephen King, não é garantia de sucesso nem de qualidade. O diretor americano é considerado um mestre das imagens, e nesse filme ele faz jus a essa fama. Sempre com enquadramentos e planos-seqüências brilhantes além de sua marca registrada, a justaposição de imagens em apenas um quadro, ou seja, quando o diretor divide a tela em duas ou mais partes.
Criticado na época pelo excesso de violência, o filme apresentou muito mais do que sangue (ainda mais se compararmos com os trabalhos atuais): a fragilidade e os poderes de Carrie foram magistralmente retratados, criando a tensão necessária para arrebatar o espectador. O enredo vai crescendo de tal maneira que fez com que a "resposta" da personagem, rejeitada pela mãe e por todos, tivesse sentido.

"Carrie, a estranha" é um filme na medida certa, agrada a todos os tipos de fãs do cinema, não é como se distrair, o ritmo do filme é impressionante por mais "soturna" que a obra seja. Graças à edição bem-feita e ao talento do diretor. O filme possui algumas cenas clássicas como o plano de dois minutos antes do clímax do filme e a protagonista banhada de sangue de porco em meio a premiação do baile de formatura (cena inúmeras vezes copiadas em outras produções).

Mesmo que você não seja fã do gênero terror, confira o filme, é bom ver grandes atores no começo das suas carreiras com Sissy Spacek (indicada ao Oscar por este trabalho), John Travolta (canastrão demais nesse filme) e Amy Irving (linda quando nova).



sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O Labirinto do Fauno - Guillermo del Toro


Atualmente os mexicanos vêm fazendo bonito quando o assunto é sétima-arte, logo se tornaram os principais executores entre os latinos americanos e conquistaram uma audiência cativa nos Estados Unidos. Entre essa leva de atores e diretores que surgiram a partir do final da década de 90 estão Guillermo del Toro, Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñárritu, Maribel Verdú, Gael Garcia Bernal, Diego Luma etc.

“O Labirinto do Fauno” de Guillermo del Toro foi escolhido para esse review, que é o primeiro da série de análises de filmes latinos.

Uma menina e sua mãe se mudam para uma região da Espanha onde ainda há combates da Guerra Civil, ambas passam a viver em uma mansão de propriedade militar. No jardim da casa em que agora reside a garota encontra um labirinto, que a leva a um mundo de fantasia.

É nesse tom fantástico que Del Toro constrói sua narrativa, com um roteiro criativo e com uma alta-qualidade de ambientações, figurinos, fotografia e efeitos-especiais, o diretor nos dá um belo espetáculo visual, não ficou nada a dever as produções norte-americanas e européias, o que ficou provado no Oscar.

O diretor através da mescla do real com o imaginário consegue criar uma poesia de tons melancólicos, seja pela situação da guerra ou pelas viagens imaginativas da protagonista que nos mostram o quão dura é uma situação de conflito e a forma na qual a menina lida com as mudanças que ocorrem no seu mundo.

O que é o trunfo do filme para alguns, para outros é ponto fraco. Muitos consideram um erro a mistura do real com imaginário e o fato do filme não “se decidir” entre adulto e infantil. Uma heresia por parte destes, como se no cinema fosse proibido alçar vôos com a imaginação, precisasse de explicações e finais sob medida como em uma novela.

Glauber Rocha certa vez disse que queria que os espectadores construissem o filme através da imagem que ele passava. Pena que muitos ainda tenham preguiça até de pensar.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Robert Bresson e Pickpocket

Robert Bresson fazia questão em nunca recorrer a atores profissionais. Optava sempre por amadores que eram submetidos a um método rigoroso que consistia na total depuração de todos os traços/tiques de ator que o intérprete viesse a ter. Bresson utiliza o termo "modelo", já que eles não têm nada dos atores - numa entoação sem inflexão: são as chamadas vozes brancas dos modelos bressonianos, que falam como se escutassem suas próprias palavras ditas por um outro. O seu objetivo consistia em transformar o intérprete numa marionete ao serviço do realizador, a quem cabia a tarefa de ditar todos os movimentos e gestos que o ator teria de tomar.


Tudo isto para satisfazer o objetivo de envolver o espectador no estado de espírito da personagem, não se distraindo com a sua aparência. Grosso modo, ao espectador não cabe o papel de juiz do que se desenrola diante dos seus olhos, mas sim o de simples testemunha de qualquer processo. Citando o diretor: “não se trata de dirigir alguém, mas de dirigir a si mesmo. Nada de atores. (Nada de direção de atores). Nada de papéis. (Nada de estudo de papéis). Nada de encenação. Mas a utilização de modelos, encontrados na vida. SER (modelos) em vez de PARECER (atores)”.


“Pickpocket” impressiona, com uma edição ao mesmo tempo ágil mas quase invisível, alternando a imobilidade e o movimento com grande destreza. As atuações estão praticamente omissas, mesmo assim transpõem enorme simpatia e cumplicidade ao espectador apenas com o olhar e as falas provando a qualidade do diretor. Mas, se por um lado as expressões e ações são tão contidas, um elemento se desprende do resto e parece assumir vida própria, que são as mãos. Tão presentes quanto os rostos, senão mais, as mãos estão sempre à fazer algo, por mais detalhado que seja, com destaque (é claro) para as cenas de furto.

Antigo cartaz do filme


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Homo Sapiens 1900 de Peter Cohen


"Homo Sapiens 1900" é um estudo contundente sobre as origens de uma terrível teoria científica que ficou conhecida mundialmente como Eugenia. Em rápidas palavras, a Eugenia nasceu na Alemanha, e pregava o puro e simples extermínio de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Física ou mental. A idéia básica era “purificar” a raça, impedindo a “proliferação” de seres humanos menos capacitados.

Através de Fades o diretor imprime ao documentário uma linha do tempo, que nos leva desde o início do século até a sua segunda metade, a linha é colocada entre esses fades com datas respectivas aos fatos ocorridos. Essa técnica ainda imprime uma aparência dos antigos projetores, os quais se trocavam as fotos ao clique de um botão, esse ar “vintage” exprime ao trabalho uma aproximação maior com a época do material que o diretor trabalhou para montar o documentário. “A forma mais simples, e ainda não desprezada ou rejeitada, é usar o lettering – legenda, fornecendo a data ou, simplesmente, o ano”.

Nem sempre, porém, o diretor conseguiu encontrar tomadas que traduzissem com riqueza o que é a eugenia. Por isso, em várias ocasiões, Cohen se viu obrigado a recorrer a imagens genéricas e a centrar força na narração. Como já demonstrara em Arquitetura da Destruição, ele é hábil em redigir textos informativos e impactantes. Para que o espectador possa assimilá-los, “Homo Sapiens” 1900 apela para um recurso: vez por outra, entra o som de um piano e a tela escurece completamente, até que a platéia recupere o fôlego e possa ir adiante.

Peter Cohen é um ótimo diretor, seu documentário “A arquitetura da destruição” é excelente. “Homo Sapiens” como cinema não é tão bom quanto mas devemos prestar toda a atenção na mensagem a qual o diretor nos passa. É sempre válido aprender com os erros do passado a fim de nos redimir.

sábado, 20 de outubro de 2007

Jogo de Cena

Em 2006, o cineasta Eduardo Coutinho teve a idéia de colocar um anúncio num jornal, procurando por mulheres que tivessem histórias para contar e se dispusessem a participar de um teste para cinema. Oitenta e três entrevistas ocorreram, das quais vinte e três foram selecionadas e filmadas. Posteriormente, atrizes foram chamadas para dar sua interpretação às histórias contadas pelas entrevistadas.

O filme em sua essência é bem simples, apenas uma câmera estática. Os depoimentos são relativamente semelhantes – Perdas, Traições, depressão etc. O trunfo do filme é descoberto quando notamos a presença de atrizes famosas (Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Mary Sheila) em algumas cenas. Alternando depoimentos reais com reencenações. O diretor joga o espectador num exercício de dúvida permanente. Eventualmente, as atrizes também são estimuladas a contar passagens de sua própria vida, contribuindo para uma maior semelhança entre o real e o fictício. As surpresas são freqüentes, a instabilidade é constante.

O diretor conseguiu criar um filme diferenciado, no qual documentário e ficção se misturam a todo momento. A habilidade de Eduardo Coutinho em entrevistar faz com que as mulheres se sintam a vontade frente às câmeras e assim ele consegue extrair o melhor de cada uma. O filme acaba sendo prejudicado pelo excesso de “personagens”. Nem todas as histórias ali retratadas são interessantes. Uma edição mais “enxuta” faria bem ao filme pois assim não perderia sua força em nenhum momento.

Jogo de Cena é um bom filme. E suas maiores qualidades vêm do que não é visto, ou seja, do conceito, do que não está em cena.


terça-feira, 9 de outubro de 2007

Lapa, o Montmartre Carioca

Nascido em período colonial
O berço da boêmia carioca
Continua, como sempre, atual.
Lutando contra o tempo,
E sobrevivendo com talento.
Terraço de artistas e intelectuais
Que ali fizeram moda e história;
Até lutaram pelos seus ideais.
A lapa está guardada na memória
Das pessoas mais simples
Às mais abastadas.


Arcos da Lapa, Rio de Janeiro - Brasil

A Lapa nasceu ao redor de um aqueduto da época em que o Brasil era colônia portuguesa e não americana. Sua fama não sucumbiu ao audacioso projeto, ao contrário. Tão importante obra histórica brasileira passou a ser um adorno em suas ruas. Um ponto de encontro, onde namorados se encontram, mendigos se abrigam e jovens aguardam as filas do circo voador e Fundição Progresso.

Dizem que a praia é o lugar mais democrático do Rio de Janeiro – duvido muito, na Lapa não há as pseudo-divisões que tribos e grupos instauraram nas areias, se lá pode ser considerado um reduto, esse só pode ser chamado de reduto dos verdadeiros cariocas.

Como em todo bairro carioca, há mitos e lendas. Grande parte envolvendo seu mais famoso morador, Madame Satã. Negro, pobre e gay que até hoje é lembrado como o malandro mais célebre do local. Sua vida protagonizou até um filme, rodado nos antigos sobrados e famosas escadarias.

O Ressurgimento da Lapa no final da década de 90 não só fez renascer novamente um ponto turístico. Fez renascer o espírito carioca que estava “aprisionado” pela violência de nossas ruas. No bairro vimos ressurgir rodas de sambas e choro e o encontro de jovens pelas ruas. Até conversas intelectuais ocorrem nos finais dos shows no Beco do Rato, transcendendo as universidades e ganhando as ruas como em décadas passadas.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Uma imagem vale mais que mil palavras.


Alicia Silverstone’s Sexy Veggie PSA
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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Amilcar de Castro

Como transformar um pedaço de um ferro, elemento tão rústico, em arte? Como dar expressão a algo demasiadamente sóbrio? Apenas quebrando regras e criando um novo tipo de expressão cultural. Regras absolutas sobre arte não sobrevivem ao tempo, mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender esse fenômeno.

No Brasil, início da década de 50, o concretismo era o estilo predominante, juntamente com ele vinha um falta de lirismo e abstração, uma sobriedade e preocupação estética ligada ao real e a forma, que por vezes punia uma expressão maior do artista. No Rio de Janeiro surge um grupo que procurava novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro; os Neoconcretistas. Um dos principais membros desse grupo foi o artista plástico mineiro Amilcar de Castro.

Amilcar tem seu nome marcado na história do Jornalismo brasileiro por ter sido responsável pela modificação da diagramação e design do Jornal do Brasil, principal publicação do país na época. Esse novo formato tornou muito mais prazerosa a leitura do jornal. Embora o JB tenha mudado seu formato, muitas publicações utilizam diagramações parecidas com a idealizada por Amilcar de Castro.


A reforma teve como base a utilização dos contrastes entre os elementos verticais e horizontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. A tipografia diversifica-se em tamanhos e pesos, facilitando a hierarquização do conteúdo editorial. A fotografia, amplamente utilizada, alia-se às novas técnicas de edição jornalística, oferecendo ao leitor uma síntese visual da notícia. Inspirado pelo concretismo, Amilcar abusa do branco do papel, abrindo maior espaço entre as colunas e eliminando os fios que antes as dividiam. Os classificados, que tradicionalmente ocupavam toda a primeira página, foram parcialmente mantidos, num formato em “L”, à esquerda do layout.

O multifacetado artista é talvez o único no mundo em que sua obra é apreciada por milhares diariamente, mesmo que inconscientemente. Toda vez que alguém para em uma banca e passa os olhos por um jornal ela se depara com a realização de Amilcar. Creio que ele nunca imaginou que de forma tão sutil, ao contrário de suas marcantes e imponentes esculturas estaria ligado ao dia-a-dia do brasileiro.

Uma das esculturas de metal feitas por Amilcar


terça-feira, 28 de agosto de 2007

Pobreza cinematográfica


Recentemente abateu sobre o mundo cinematográfico uma pesada nuvem de más notícias e maus presságios. Em um curto espaço de tempo o cinema perdeu dois de seus maiores gênios, o Italiano Michelangelo Antonioni e o Sueco Ingmar Bergman. Os mais pessimistas dizem que sem eles a sétima arte nunca mais será a mesma, integrantes da chamada geração Payssandú dão entrevistas, postam em seus blogs e fomentam acaloradas discussões sobre o futuro do cinema. No geral as expectativas por partes dos cinéfilos são ruins pois consideram que com a morte de ambos diretores, além da morte prematura de François Truffaut e mais tarde de Stanley Kubrick, o fim do cinema-autoral está próximo.


Essa visão pessimista acaba atingindo o alvo errado, já que os cineastas e roteiristas atuais são culpados pela falta de qualidade do cinema atual porém esses críticos do cinema contemporâneo se esquecem que filme hoje em dia virou produto de comércio. Empresas cinematográficas já possuem ações nas maiores bolsas de valores do mundo. O que gerou uma questão acima da qualidade da arte – o lucro. "Filmes cabeça", como alguns costumam chamar, não possuem uma grande aceitação por parte dos espectadores logo são postos de lado na avaliação de futuros projetos por parte dos estúdios. Houve uma troca de diálogos por ação, erotismo por tiros e talento por músculos.


Apesar dessa visão crítica antes exposta há muita gente fazendo cinema autoral e de qualidade, inclusive no Brasil como é o caso de Cláudio Assis (Amarelo Manga e Baixio das Bestas). Até dentro do mundo tão comercial de Hollywood surgem exceções que nos brindam com filmes de muita qualidade como Gus Van Sant, Lars Von Trier e David Lynch.


Não há um "desaprendizado" na maneira de fazer filmes mas sim uma nova geração que não sabe apreciar um bom filme,não possuem paciência para ler um livro ou escrever corretamente em seus e-mails e "scraps do orkut". A vida tornou-se tão corrida que os filmes que não acompanham esse ritmo são descartados. Infelizmente.

domingo, 26 de agosto de 2007

Música e imagem

Escolhi duas cenas clássicas que nada seriam sem a perfeita interação com a música, descrever e analisar essas cenas seria muita pretensão e perda de tempo, não é nescessário. Basta apenas ver e apreciar:

"Perfume de mulher":


"Era uma vez na América":

domingo, 19 de agosto de 2007

"Paranóia" - "Disturbia"


Estava para fazer a resenha deste filme há um bom tempo, não havia feito pela total falta de imaginação, não por minha culpa como verão adiante mas simplesmente por não saber como começa-la pois até agora não sei se elogio ou critico o filme. À análise:

Paranóia é um filme que segue a linha de todos os “suspenses teens” lançados ultimamente – casalzinho principal, sujeito misterioso, mulher bonita etc.

O que faz esse filme se destacar da grande maioria é que o roteiro dele é muito mais interessantes que todos os últimos filmes do estilo. Dessa vez a história não se passa em uma viagem de férias, nem numa escola e nem envolve um grande grupos de amigos que será salvo pelo considerado “loser” que se transformará no herói e ficará com a mocinha virgem. A história começa de forma bem interessante caso os roteiristas quisessem o filme poderia tomar outro rumo de tal forma que foi bem montado o roteiro.

Para que entendam melhor a sinopse do filme: “Kale (Shia LaBeouf) está sob prisão domiciliar por 3 meses, sendo que caso dê um passo além do perímetro de 30 metros irá para uma prisão de verdade. Desta forma ele vive em sua casa, jogando videogame, navegando pela internet, vendo TV e espionando as pessoas pela janela do seu quarto. Um dos seus alvos é Ashley (Sarah Roemer), sua linda vizinha que logo torna-se sua amiga e, para sua surpresa, também se interessa em espionar a vida alheia. Até que um dia eles passam a desconfiar que um dos vizinhos é na verdade um assassino.”

Prós e contras; o diretor e os roteiristas parecem terem esgotados sua imaginação até certo ponto do filme, não que a ação e a história decresçam com o avanço do filme mas ocorre uma sucessão de clichês, até cena plagiada de show de vizinha ocorreu, incluindo as seqüências finais que já foram vistas em 90% dos filmes do Jason – Que não detalharei para não fazer nenhum spoiler. Talvez para o público alvo que o filme pretende atingir tenha sido perfeito. E quem sou eu para discordar?

Os prós são a beleza de Sarah Roemer e ver que Shia LaBeouf realmente se tornou um bom ator e é por isso que vem emendando uma grande seqüência de filmes sem fazer feio, além é claro da primeira metade do filme como já havia citado.

Se me perguntarem se gostei do filme responderei afirmativamente, é um filme que prende a atenção e diverte, daria um 7,5 para ele porém recomendo a quem não paga meia-entrada a ir em um dia promocional pois o filme é legal mas não vale 20 reais. Aliás pelos preços do cinema hoje em dia deviam passar só coisas do nível de um Kubrick.

TRAILER:

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Vídeo-clipes!

Vídeo-clipes na minha opinião são subestimados já que não há nada melhor do que unir música e imagem e se no caso haver grandes idéias é melhor ainda, por isso hoje citarei os que considero os 3 melhores clipes já feitos, independente do meu gosto pela banda.
Selecionei os clipes que vão além da imagem do artista, podemos dizer que são curta-metragens.

3. Weezer - Buddy Holly
Clipe dirigido por Spike Jonze ("Quero ser John Malkovich" e "Adaptação") é talvez o trabalho mais famoso do diretor fora das telonas e com certeza esse clipe lhe abriu algumas portas. O que ele tem para ser tão bom? Nada demais, é apenas muito bem feito e divertido; a ambientação é perfeita e a idéia do diretor em refazer o seriado "Happy Days" casou perfeitamente com a música, mesmo quem não gosta da banda adora esse clipe e com razão.



2. Madonna - Frozen
Chris Cunningham é considerado por muitos o melhor diretor de vídeoclipes, rótulo merecido, seus clipes possuem um visual surrealista impressionante, todos fogem do lugar-comum. Uma espécie de David Lynch dos clipes só que um pouco mais surreal e digital. Frozen é com certeza o seu clipe mais famoso mas a grande parte dos seus fãs apontam outras obras como as melhores mas eu tenho preferência por esse pela forma como ele consegue interagir com a música sem estar nescessariamente ligada a sua letra. Adoro o visual desse clipe, principalmente essas cores saturadas que viriam a ser copiadas em todos os clipes de bandas pseudo-góticas.



1. Johnny Cash - Hurt
Dirigido por Mark Romanek que agora está começando um promissora carreira como diretor de cinema; o clipe não possui efeitos especiais, cenários diversos, uso de várias câmeras, atores famosos etc. É apenas Johnny Cash em seus últimos momentos e mais edições de imagens sobre sua vida e obra, um clipe triste porém belo, a música é excelente e na versão de Cash ficou perfeita, sintetizando perfeitamente aquele momento, o clipe se tornou uma despedida do lendário homem de preto e sua carreira se findou com um trabalho único no qual artista e diretor em menos de 5 minutos conseguiram transmitir emoções que muitos cineastas gabaritados penariam para extrairem em 2 horas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Jennifer Connelly



Hoje mudarei um pouco a postagem, ela não homenageará ou analisará um filme ou estilo mas sim fará um “review” da vida de umas das mais belas e talentosas atrizes do cinema mundial, musa de qualquer cinéfilo que se preze. A atriz em questão é a americana Jennifer Lynn Connelly. Não me apegarei aos detalhes de sua vida pessoal para isso já existem vários sites que poderão lhes informar data de nascimento, local, idade, casamentos etc. O foco em questão é a sua vida profissional a qual se deu início bem cedo. Aqui dividirei em três partes a sua trajetória para facilitar a compreensão.

1 - Início e sucesso

Jennifer estreou nos cinemas aos 14 anos no filme “Era uma vez na América” do aclamado diretor Italiano Sergio Leone o mesmo de “Era uma vez no Oeste” e “Três homens em conflito”. Na ocasião Jennifer não fora escolhida por seu talento e sim pela semelhança entre o seu nariz e o da atriz Elizabeth McGovern que representava sua personagem (Deborah) na fase adulta.


Na seqüência veio “Phenomena” do diretor italiano Dario Argento que é cultuado como um dos grandes mestres do terror, o filme fez uma enorme sucesso na Europa porém esse sucesso se restringiu ao velho continente devido a má distribuição da fita nos Estados Unidos. No mesmo ano ela atua em “Sete minutos no paraíso”.


Até então Jennifer Connelly tinha mais notoriedade como modelo do que como atriz o que viria a mudar após estrelar “Labirinto” que até hoje é um dos seus filmes mais notórios, o qual atua junto de David Bowie que dizia a achar muito parecida com Elizabeth Taylor. Com o sucesso do filme Connelly viu sua carreira deslanchar, o filme foi sucesso mundial e sua atuação era elogiada por críticos de inúmeros veículos.


Após tanto sucesso Jennifer possuía tudo para se tornar uma grande estrela porém ainda não seria dessa vez, a atriz estrelou “Étoile” que até hoje é um filme “obscuro” e logo após emendou um seqüência de filmes adolescentes; “Essas Garotas”, “Hot Spot”, “Construindo uma carreira” e “Rockeeter” . O primeiro e o terceiro viriam a se tornar clássicos da década de 90 na TV brasileira na popular “Sessão da Tarde”. Jennifer se tornara um atriz com reconhecimento de público mas não de crítica, apesar do sucesso de algum desses filmes a atriz ainda era mais lembrada pelo seu papel em “Labirinto”.

2 - Período de Penumbra

Posteriormente ao período “musa teen”, estereótipo que a atriz diz odiar ter encarnado, Jennifer fez uma sucessão de filmes “apagados” inclusive um filme chamado “O coração da Justiça” do diretor brasileiro Bruno Barreto. Apesar de alguns grandes projetos e atuações ao lado de grande atores, Jennifer ainda não fazia parte do grande escalão de Hollywood. Seu único sucesso notório no período entre 92 e 99 foi o filme de ficção científica “Cidades das sombras” que inesperadamente deu um novo gás a sua carreira.

3 - Estrelato e aclamação

Após obter novamente visibilidade com “Cidades das sombras” a atriz foi convidada pelo então novato Darren Aronofsky para um filme baseado no livro “The last exit to Brooklyn”, o filme em questão era “Réquiem para um sonho”, filme totalmente atípico para os padrões hollywoodianos porém se tornou um enorme sucesso, alavancando e reavivando a carreira não só de Jennifer mas do diretor e de todos os protagonistas. Connelly recebeu seus primeiros prêmios na carreira e assim passou a ser vista como uma ótima atriz que poderia dar vida a papéis complexos.


O sucesso do filme chamou a atenção de Ron Howard que a convidou para o filme “Uma mente brilhante”, baseado na vida do matemático John Nash. Filme o qual mudou a sua vida, dizer que Jennifer Connelly foi bem no filme não faria jus a sua atuação; a atriz simplesmente venceu todos os prêmios os quais concorreu, incluindo o Oscar de melhor atriz coadjuvante.

Finalmente justiça havia sido feita, Jennifer estava entre as maiores atrizes do mundo. Após o sucesso Connelly participou de uma seqüência de grandes filmes (alguns bons e outros nem tanto) mas o que merece uma menção especial é “Casa de areia e névoa”. Em minha opinião um filme altamente injustiçado nas premiações, tanto filme como os atores que dele participaram. Um drama comovente e ambíguo que devido aos talentos nele contidos passou longe de parecer uma novela mexicana. Para muitos a atuação da vida de Jennifer, tanto que após dele viria a ser chamada de “a nova Meryl Streep” por alguns especialistas.


Seus dois últimos filmes foram lançados no ano de 2006, ambos grandes sucessos e atualmente a atriz finalizou o drama “Reservation Road” (sem data de lançamento para o Brasil), gravou a voz na animação infantil “9” e começará a rodar “Born” junto com seu marido – o ator inglês Paul Bettany.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Uma pequena introdução ao Surrealismo



No surrealismo podemos quebrar a realidade, já que ela não precisa se adequar a moldes pré-estabelecidos pelo ditame do real. Isto se faz em contraste à não-ficção, que reivindica ser factual sobre a realidade. Devido a essa ruptura a ficção não tem compromisso com o tempo, o que não é real não envelhece, o que é simbólico não perde sentido. Isso é um grande trunfo da arte surrealista, o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Estilo que tem como características uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos.

A arte de Salvador Dalí sempre será atual, não há como definir suas formas, os que tentam esbarram em meras especulações que não são aprovadas pelo autor, os surrealistas não possuiam pretensão em deixar explicações de significados, cada tem sua própria conclusão diante de um trabalho. O que não tem explicação, forma definida e apego a uma época não pode ser datado. Andy Warhol por mais moderno que seja nunca conseguirá ter a mesma vivacidade de um Dalí.

sábado, 14 de julho de 2007

Análise do documentário: "Entreatos"


“Entreatos” é um documentário de quase duas horas que flagra os bastidores de um dos principais momentos da política brasileira. A chegada de um ex-líder operário à presidência de uma república. A intenção original de João Moreira Salles era acompanhar a campanha apenas durante o segundo turno, quando Lula enfrentaria o candidato José Serra. Mas, diante da possibilidade muito elevada de uma vitória de Lula já no primeiro turno, o início das filmagens foi antecipado.


A equipe de filmagem desfrutou de um acesso inédito em documentários do gênero. Foram filmados comícios, carreatas, traslados, entrevistas coletivas, gravações de pronunciamentos e de programas eleitorais, reuniões privadas, encontros familiares, camarins, elevadores, telefonemas etc. Ao público que assiste o documentário “Entreatos” é dado o direito de perceber as negociações, os conchavos, os apoios, o discurso milimetricamente elaborado para atender as demandas dos públicos aos quais se destina, a gravação dos programas que irão ao ar na propaganda política gratuita e até mesmo todos os acertos e ajustes necessários antes, durante e depois dos debates televisivos com os demais candidatos. O material filmado era guardado em cofres e não teve nenhuma divulgação até que o filme estivesse finalizado.


João Moreira Salles se fez de rogado e bom-moço logo após o escândalo do mensalão deflagrado por Roberto Jefferson, adiou por um bom tempo o lançamento do filme até que segundo suas palavras: “todos os envolvidos fossem julgados”. Porém o que mostra o documentário não é prova nem motivo para incriminar ninguém. Não ocorre nenhuma conversa mal-intecionada ou duvidosa, são apenas os personagens daquela trama política que mais tarde viria a se sujar, discutindo assuntos inerentes à campanha, se havia algo de comprometedor foi barrado por Zé Dirceu no momento em que impede que uma reunião seja documentada. Com esse jogo de cena todo, o diretor conseguiu atrair uma enorme atenção para o seu documentário, os media e a oposição em geral devem ter aguardo ansiosamente pela exibição da obra na expectativa de cenas comprometedoras e reveladoras que no final não haviam, o que estava documentado era apenas o lado divertido e bem-humorado do presidente.


Na abertura do filme estão incluídas todas as peças chaves do escândalo do mensalão, vendo as imagens é impossível negar que Lula tivesse um relacionamento próximo com pessoas como o ex-ministro chefe da casa civil – José Dirceu e o publicitário Duda Mendonça porém isso só serviria de material para meios sensacionalistas já que essa estreita relação já era sabida pelos membros do congresso.


Embora por mais que o diretor tenha tentado passar a imagem de documentário político a produção o que se destaca é o lado cômico do então candidato Lula, que domina a fita inteira,elos membros estava documentado era as e reveladorasil e ençtes undamento pol, vemos aqui um candidato brincalhão, contando histórias e satirizando outros políticos, não há como não rir em vários momentos, destaque para quando ele diz que pretende colocar “uns cabritinhos no palácio” para deixar a residência do presidente mais animada, além de histórias de quando era operário e bebia pinga barata antes do serviço.


O humor-negro nessa história toda foi quando cenas previamente editadas do documentário foram usadas para prejudicar a imagem do predisente, o fato é que essas cenas foram usadas apenas em 2006 e sem nenhuma relação com o caso da compra dos deputados, Moreira "defendeu" um lado e a oposição atacou outro, a cena em que Lula se irrita com os fotográfos foi divulgada pelo superestimado site Kibeloco e alcançou altissímos níveis de visibilade no site de hospedagem de vídeos - Youtube.


“Entreatos” é um bom documentário, embora com certo relaxo na parte técnica, o som altamente ruidoso e a câmera tremida evidenciam um cinema-verité amador por parte do diretor. Despido de preconceitos o filme traz bom momentos e não cai no comum, se João Salles tinha a inteção de fazer uma obra de cunho político, fracassou, mas deixou como registro o que talvez sejam as melhores imagens do político mais popular que o Brasil já teve.

"Clube da Luta" - Visão através de Nietzsche e Schopenhauer


Resumo da Análise dos principais Highlights do filme.

(Caso queiram a análise completa, que não cabe aqui, pedir por e-mail. Grato)


O filme “clube da luta” dirigido por David Fincher, o mesmo de Seven, é estrelado por Brad Pitt (indicado ao Oscar por "Os doze macacos"), Edward Norton (indicado ao Oscar por "A outra história americana”), Helena Bonham Carter (indicada ao Oscar de melhor atriz por “Asas do amor”). Jack (Edward Norton) é um executivo bem-sucedido que possui problemas psicológicos e encontra sua cura ao ver sua superioridade de saúde, e assim sentindo sua vida, em sessões de terapia de grupos para pacientes terminais de câncer.

Diante do desespero no qual se encontra, ele inconscientemente manifesta seu superego o qual se chama Tyler Durden (Brad Pitt). Este por sua vez o faz acordar do mundo de ilusões e fantasias no qual vive, fazendo-o quebrar as regras, as quais ele não escolheu, para conseguir se libertar dos grilhões da sociedade capitalista.

A vida do homem, segundo Schopenhauer, é “uma morte perpétua”. O tempo, com seu escoamento, acompanha o ritmo de “sede inextinguível do desejo”. Quando o desejo se detém é o tédio. Quando o tédio se detém é novamente o desejo. Schopenhauer considera toda a atividade humana sob a ótica da existência ligada ao desejo. Mesmo as “atividades de nosso espírito” são “um tédio que expulsamos a cada momento”.

“A vida oscila, portanto, como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento ao tédio”. O movimento da vida está submetido ao movimento do desejo, e o desejo “tem por princípio uma necessidade, uma falta, logo, uma dor”. O tédio é o mal do tempo. Schopenhauer diz claramente: “esta existência, uma vez assegurada, não sabemos o que fazer dela, nem em que empregá-la”. O tédio é o fundo vazio que surge quando tudo parece satisfeito.

Para o nosso anti-herói a vida vem em pequenas doses, ele nunca havia experimentado grandes sensações, relacionamentos e conhecimentos, tudo era muito simples e descartável como seu emprego e até sua existência naquele dado momento.

O momento chave no filme ocorre quando Jack vê o seu superego, Tyler Durden, até então ele aparecia como pequenos flashes – Talvez Jack ainda não estivesse preparado para externar seu outro lado, colocar em prática sua vida dupla.

Podemos afirmar desta maneira que no filme, o Fenômeno do surgimento de Tyler dá-se devido à enorme necessidade de Jack ter maiores satisfações em sua vidinha comum e rotineira. Tyler é a força interior que o impulsiona rumo à ultrapassagem dos limites do certo e do errado. O desejo é o elemento que nos faz evoluir de um estado letárgico. Schopenhauer afirma em sua teoria do desejo que toda a satisfação advém de um estado anterior de insatisfação ou de necessidade. Jack passará por um processo semelhante ao de Buda, que deixou seu palácio para ter conhecimento do mundo real.

Da união dessas duas personalidades nasce o "Clube da Luta" que passa a ter grande influência na vida de seus freqüentadores, ele passa a ocupar o vazio da vida simplória, tudo passa a ter mais sentido depois do Clube. Ele não resolvia nada apenas acabava com importância exarcebada dos fatos inúteis inerentes à vida. O problema da verdade ganha agora um sentido diverso, a falsidade ou a verdade não é a questão, mas se o juízo favorece ou não a vida, se conserva vida, se a torna maior. A vida é uma multiplicidade de significados e perspectivas que dependem de um jogo de forças.O que estará em jogo será a expansão da vida.

O Clube da Luta é a psicanálise da cultura aplicada. Tyler é o novo Freud. A diferença é que Freud se dedicava a diagnosticar a natureza dela, Tyler a cura. Ele demonstra as conseqüências de interpretar Freud e Nietzche literalmente e te pergunta se as conseqüências são absurdas. A civilização não é tolerada, mas sim dizimada. A catarse não pode ser encontrada conversando num sofá, mas sim matando um terapeuta. O assassinato só pode ser completo pela transferência de Freud. Transferência é o fenômeno pelo qual as emoções que o paciente sente pelos pais são expressas para o terapeuta. O narrador glorifica sua fantasia cometendo um patriocídio, se libertando da fixação no estado fálico e tomando posse de Marla. O novo Freud é um mártir para seu paciente.

Jack para autoprovar que estava vivo se queima, no começo o que era uma loucura se demonstrará um processo de aprendizado, embora ele lutasse sempre e se sentia melhor com isso ainda não havia experimentado o que era realmente estar vivo, experiência que ele sentirá melhor mais tarde após um acidente automobilístico. Nietzsche vai até a raiz da existência, pois a origem da vivência é a dor. O ente é um por fazer, é a necessidade de ser ação, isto é esforço, conquista, realização, enfim, atividade de dor. Descer na dor é descer na raiz de vida, de existência, porque dor pode ser identificada com terra, finitude e limitação, enquanto que a superação é identificada com céu, ilimitado e além. A busca pelo ilimitado se torna desesperante, desde que tudo é indeterminado, pois na medida que faz se interpela.

A casa que no início do filme era apenas moradia passa a ganhar vida e se torna o quartel general do projeto, projeto o qual era responsável por atos que quebravam com a rotina da cidade. O Projeto Mayhem é libertação do Clube da Luta para as ruas. Ele rompe com as regras pré-estabelecidas.

Mesmo após descobrir todos os planos e tudo o que aconteceria seria devido a sua própria armação, Jack entra em desespero, mas era tarde, o plano já estava consolidado. Visava atingir o maior símbolo do estado capitalista, o dinheiro. Jack planejara derrubar os prédios das empresas de cartão de crédito causando um enorme caos. O ato simbólico representaria seu maior conceito que é “Você não é o que possui”. Antes do fato se concretizar Jack finalmente assume suas duas vidas, não matando Tyler como possa parecer, mas atirando em si próprio ele dispensa a ajuda do seu superego, ele já havia tomado a forma de Tyler Durden interiormente, já havia se tornado as duas personalidades.
“A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles...” (Álvares de Azevedo, 'Macário').


Análise do documentário: "O Homem-Urso"




Este não é mais um documentário clichê no qual a beleza da natureza sairia ressaltada e o homem maravilhado com as dádivas da criação do universo. Caso você queira esse tipo de material basta sintonizar a sua televisão a cabo nos canais que passam essa programação por várias horas ao longo do dia.

Timothy Treadwell, uma promessa do sonho americano que não deu certo, que chegou a conclusão que era melhor viver entre os ursos do que entre os humanos. Resolveu por contra própria e sem nenhum preparo acadêmico estudar e cuidar de ursos. Nada mais natural que Werner Herzog, renomado diretor de documentários se interessasse pela vida do ambientalista. Experiente e esperto, sabia que tinha um personagem poderoso nas mãos. O filme é, em sua maior parte, composto de imagens feitas por Treadwell ao longo dos seus últimos cinco anos de vida.

Por treze anos ele se instalou na península do Alasca durante o verão, às vezes acompanhado, e, nos últimos anos, com uma câmera na mão, com a qual registrou aquilo que chamava de pesquisa, já que apenas possui material gravado e nenhuma anotação que mostrasse ser resultado de um trabalho de cunho científico. Timmy permanecia junto dos ursos nas primaveras e verões,de alguns mantinha pouco mais de um metro de distância, às vezes arriscava um cafuné. Filmava e voltava para a Califórnia no inverno e no outono, época em que divulgava o seu material. Qual seria, então, a diferença entre Timothy e outros documentaristas da vida selvagem? A resposta é que Treadwell queria provar que os ursos são superiores à civilização. Em suma, nós mortais vivemos na barbárie, ao contrário dos ursos grizzlies (os mais ferozes ursos na face da terra).

Através de suas imagens, Treadwell se mostra melhor cineasta do que pesquisador ou ecologista, como o diretor definiu bem: “Há imagens que falam por si só”, em suas filmagens há momentos perfeitamente e registrados, muitos feitos de forma bem irresponsável, já que ficava dos animais a uma distância de enorme risco como em um dos principais highlights da fita quando ele praticamente treme de prazer ao filmar um urso defecando durante uma briga; depois, ele enfia os dedos no monturo, felicitando-se por tocar algo que “estava dentro dela agorinha”.

Por mais que o ambientalista se julgasse amigo dos ursos e achasse que estava ganhando a confiança dos animais, percebe-se que isso era fruto de sua imaginação e que, em vários momentos, ele esteve bem próximo do perigo. A Herzog coube selecionar o melhor material para o documentário, além de entrevistar os pais, amigos íntimos (muito poucos, por sinal) e a ex-namorada de Treadwell. O final foi como todos imaginavam: Ele foi devorado por um de seus "amigos" em outubro de 2003. Essa foi a primeira agressão do tipo registrada no Parque Nacional e Reserva Katmai. Esta é a lei da natureza que Treadwell não conseguiu entender. Por fim o protagonista conseguiu o seu intento.Está em outra realidade, sem medos, sem arrependimentos, sem glórias, o nada.

"O Homem Urso" não consegue mostrar quem foi Timothy Treadwell -- nem é esse o objetivo do filme. O que o diretor pretende é fazer uma investigação sobre o comportamento humano. O grande erro do filme, já que ele entra em uma verdadeira armadilha. O cineasta em alguns momentos parece estar protegendo os amigos e familiares de Timmy a não revelar o conteúdo de uma fita, muito estranha por sinal, a fita de acordo com o Werner e um médico legista que mais parecia um personagem de um filme de comédia, continha o áudio dos últimos minutos da vida de Timothy e sua namorada, o objeto vira o foco do documentário em certo momento porém ela nunca é ouvida, apenas relatos, revelar o conteúdo da fita não seria nenhum “crime” caso fosse feito com sensibilidade assim como fez perfeitamente Michael Moore com os vídeos da tragédia de Columbine . Esse intuito de proteção pode soar forçado para alguns já que na grande parte do filme WH traça Treadwell de uma forma caricata, bipolar e egocêntrico. O diretor foca em determinados aspectos em detrimento de outros logo a edição e montagem levam muitos a acreditarem que a realidade é aquela que está sendo ali mostrada, e por ser feita de forma pessoal/autoral é carregada de responsabilidades, como cita Felipe Pena: “O tecido atingido pela calúnia não se regenera. As feridas abertas pela difamação não cicatrizam. A retratação nunca tem o mesmo espaço das acusações. Creio que a primeira reação de muitas pessoas no começo da obra era de pena, diante da tragédia e já ao final tinham uma sensação diferente, como se o “Tarzã do Alasca” tivesse merecido esse final devido a vários atos irresponsáveis.
O que considerei antiético, já que o “ambientalista” não tem como se defender e aqueles que podem por ele interceder não parecem estar muito pré-dispostos a isso. É clara a sensação de frieza e desconforto dos pais ao darem a entrevista.

As maneiras de representar uma linha de tempo são autorais e na minha opinião, foi o grande trunfo desse trabalho, a forma sutil e inteligente que o diretor usou para representar o tempo. Rejeitando lettering ou clichês clássicos do cinema/documentário como folhas de calendário, momentos históricos relacionados aos anos correntes entre outros. O diretor usa o crescimento dos “amigos” de Timothy como o Urso e a Raposa, ambos no início do filme eram filhotes e vão crescendo juntamente com as imagens até aparecerem já na fase adulta. Através dessa montagem o diretor consegue com que captemos perfeitamente a ordem cronológica dos verões que Timothy passou com seus “amigos”.

No final minha impressão foi a de um filme com altos e baixos. Entre os baixos um médico agir como um ator de terceira linha ao apresentar seus fatos de forma ridiculamente cênica. Ou quando vemos a reação de Palowak ao receber de herança do amigo um relógio. Ou mesmo quando Herzog mostra a si mesmo ouvindo as gravações da hora exata da morte do casal. O melhor fica a cargo de Timothy que embora caricaturizado nos revela como alguém se impõe um regime de primitivismo utópico com o único intuito de negar sua condição de indivíduo, de ser social. Nos seus devaneios apresentados durante o filme vemos um homem em seu momento mais íntimo: o sonho. Momento o qual nunca deveria ser revelado contudo Treadwell nos providenciou despido de todos os preconceitos e máscaras. O anti-herói acabou como queria, longe da civilização que tanto lhe fez mal... Antes da lei dos homens, a lei da selva.