sábado, 14 de julho de 2007

"Clube da Luta" - Visão através de Nietzsche e Schopenhauer


Resumo da Análise dos principais Highlights do filme.

(Caso queiram a análise completa, que não cabe aqui, pedir por e-mail. Grato)


O filme “clube da luta” dirigido por David Fincher, o mesmo de Seven, é estrelado por Brad Pitt (indicado ao Oscar por "Os doze macacos"), Edward Norton (indicado ao Oscar por "A outra história americana”), Helena Bonham Carter (indicada ao Oscar de melhor atriz por “Asas do amor”). Jack (Edward Norton) é um executivo bem-sucedido que possui problemas psicológicos e encontra sua cura ao ver sua superioridade de saúde, e assim sentindo sua vida, em sessões de terapia de grupos para pacientes terminais de câncer.

Diante do desespero no qual se encontra, ele inconscientemente manifesta seu superego o qual se chama Tyler Durden (Brad Pitt). Este por sua vez o faz acordar do mundo de ilusões e fantasias no qual vive, fazendo-o quebrar as regras, as quais ele não escolheu, para conseguir se libertar dos grilhões da sociedade capitalista.

A vida do homem, segundo Schopenhauer, é “uma morte perpétua”. O tempo, com seu escoamento, acompanha o ritmo de “sede inextinguível do desejo”. Quando o desejo se detém é o tédio. Quando o tédio se detém é novamente o desejo. Schopenhauer considera toda a atividade humana sob a ótica da existência ligada ao desejo. Mesmo as “atividades de nosso espírito” são “um tédio que expulsamos a cada momento”.

“A vida oscila, portanto, como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento ao tédio”. O movimento da vida está submetido ao movimento do desejo, e o desejo “tem por princípio uma necessidade, uma falta, logo, uma dor”. O tédio é o mal do tempo. Schopenhauer diz claramente: “esta existência, uma vez assegurada, não sabemos o que fazer dela, nem em que empregá-la”. O tédio é o fundo vazio que surge quando tudo parece satisfeito.

Para o nosso anti-herói a vida vem em pequenas doses, ele nunca havia experimentado grandes sensações, relacionamentos e conhecimentos, tudo era muito simples e descartável como seu emprego e até sua existência naquele dado momento.

O momento chave no filme ocorre quando Jack vê o seu superego, Tyler Durden, até então ele aparecia como pequenos flashes – Talvez Jack ainda não estivesse preparado para externar seu outro lado, colocar em prática sua vida dupla.

Podemos afirmar desta maneira que no filme, o Fenômeno do surgimento de Tyler dá-se devido à enorme necessidade de Jack ter maiores satisfações em sua vidinha comum e rotineira. Tyler é a força interior que o impulsiona rumo à ultrapassagem dos limites do certo e do errado. O desejo é o elemento que nos faz evoluir de um estado letárgico. Schopenhauer afirma em sua teoria do desejo que toda a satisfação advém de um estado anterior de insatisfação ou de necessidade. Jack passará por um processo semelhante ao de Buda, que deixou seu palácio para ter conhecimento do mundo real.

Da união dessas duas personalidades nasce o "Clube da Luta" que passa a ter grande influência na vida de seus freqüentadores, ele passa a ocupar o vazio da vida simplória, tudo passa a ter mais sentido depois do Clube. Ele não resolvia nada apenas acabava com importância exarcebada dos fatos inúteis inerentes à vida. O problema da verdade ganha agora um sentido diverso, a falsidade ou a verdade não é a questão, mas se o juízo favorece ou não a vida, se conserva vida, se a torna maior. A vida é uma multiplicidade de significados e perspectivas que dependem de um jogo de forças.O que estará em jogo será a expansão da vida.

O Clube da Luta é a psicanálise da cultura aplicada. Tyler é o novo Freud. A diferença é que Freud se dedicava a diagnosticar a natureza dela, Tyler a cura. Ele demonstra as conseqüências de interpretar Freud e Nietzche literalmente e te pergunta se as conseqüências são absurdas. A civilização não é tolerada, mas sim dizimada. A catarse não pode ser encontrada conversando num sofá, mas sim matando um terapeuta. O assassinato só pode ser completo pela transferência de Freud. Transferência é o fenômeno pelo qual as emoções que o paciente sente pelos pais são expressas para o terapeuta. O narrador glorifica sua fantasia cometendo um patriocídio, se libertando da fixação no estado fálico e tomando posse de Marla. O novo Freud é um mártir para seu paciente.

Jack para autoprovar que estava vivo se queima, no começo o que era uma loucura se demonstrará um processo de aprendizado, embora ele lutasse sempre e se sentia melhor com isso ainda não havia experimentado o que era realmente estar vivo, experiência que ele sentirá melhor mais tarde após um acidente automobilístico. Nietzsche vai até a raiz da existência, pois a origem da vivência é a dor. O ente é um por fazer, é a necessidade de ser ação, isto é esforço, conquista, realização, enfim, atividade de dor. Descer na dor é descer na raiz de vida, de existência, porque dor pode ser identificada com terra, finitude e limitação, enquanto que a superação é identificada com céu, ilimitado e além. A busca pelo ilimitado se torna desesperante, desde que tudo é indeterminado, pois na medida que faz se interpela.

A casa que no início do filme era apenas moradia passa a ganhar vida e se torna o quartel general do projeto, projeto o qual era responsável por atos que quebravam com a rotina da cidade. O Projeto Mayhem é libertação do Clube da Luta para as ruas. Ele rompe com as regras pré-estabelecidas.

Mesmo após descobrir todos os planos e tudo o que aconteceria seria devido a sua própria armação, Jack entra em desespero, mas era tarde, o plano já estava consolidado. Visava atingir o maior símbolo do estado capitalista, o dinheiro. Jack planejara derrubar os prédios das empresas de cartão de crédito causando um enorme caos. O ato simbólico representaria seu maior conceito que é “Você não é o que possui”. Antes do fato se concretizar Jack finalmente assume suas duas vidas, não matando Tyler como possa parecer, mas atirando em si próprio ele dispensa a ajuda do seu superego, ele já havia tomado a forma de Tyler Durden interiormente, já havia se tornado as duas personalidades.
“A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles...” (Álvares de Azevedo, 'Macário').


Um comentário:

Unknown disse...

Acratas do grego: an(sem) e kratos(governo). Na concepção do senso comum a palavra anarquia ou acracia tem significado pejorativo, sempre associadas ao caos, a bagunça.
Desde que o ser humano começou a viver em sociedade, visto que isso lhe proporcionou um “aumento de aptidão” (behaviorismo), desde então esse contato permitiu que se inventasse desde a roda ao saca rolha da biga ao vinho, e a que parece esta última invenção que citei, foi o que manteve a maioria dos inconformados sem levantar as armas, política, pão e circo e a invenção da moral.
Anarquia, palavra do grego: an(sem) e arché(poder), só prega o caos na sua visão mais corrompida, visão esta tão difundida por aqueles que estão no poder. A anarquia tem raiz no socialismo utópico e este está com seu destino selado, predestinado ao irrealizável por seu comprometimento filosófico, tomar o poder pelo meio da coação, contradiz seu ideário de mundo.
No filme o clube da luta, “ Tyler Durden” o alter ego de “Norton”, é um socialista ferrenho(não declaradamente, pois o autor achou que seria piegas, démodé), idealizando um mundo onde não houvesse o submetimento do homem ao outro, onde não houvesse o submetimento do homem as convenções do mundo, como ele diz “vamos estender carne seca em varais nas rodovias”; “Norton”é a produção mais apurada do mundo moderno, extremamente solitário com problemas de insônia, consome tudo que é cool e inútil, passa a freqüentar grupos de terapia em grupo buscando apenas companhia e se identificando no sofrimento dos outros até ter um encontro consigo mesmo, algo que talvez os encontros de ajuda lhe proporcionaram. Em cada grupo um pseudônimo diferente, como a máscara que constantemente usamos nos diferentes meios que freqüentamos, uma máscara para cada tribo.
O clube da luta inicia-se com “Norton” e seu alter-ego, a partir de uma necessidade comum, caos, lutas, a volta ao primitivo como forma de extravasar seu masoquismo, seu sadismo, tudo isto compartilhado com sofrimentos comuns, próprios desta falta de pertencimento que cada indivíduo carrega por seus dias, a dissociação daquilo que faz com o que realmente gostaria de fazer, a desconstituição do indivíduo por uma conseqüente personificação estética e econômica. O grupo se fortalece através de objetivos comuns, evolução, verdade, redenção, amortizar a ferida do consumo e se livrar da coação do mundo, burlar o isolamento e encontrar a reação nos outros indivíduos, fugir daquilo que “Lê Bon nomeia” como inconsciência da massa.
As duas primeiras regras do clube da luta eram: não comentar sobre o clube da luta, esta regra foi criada ao que parece propositadamente como forma de expandir ou testar o grupo, e ela foi quebrada, mas mesmo assim estes pactos fortaleciam o grupo e desenvolviam uma noção de pertencimento a uma legião, limitada e limitadora no que condiz a quem poderia entrar. Formado o grupo parte-se para novas metas e testa-se novamente aqueles que demonstram interesses a serem consumados pelo grupo. Há o rompimento com sentimentos passados e o grupo tende a viver o aqui e agora da vida grupal, desligam-se da vida fora da vivência grupal, a ação é toda direcionada para o ato conjunto, homogêneo, como quando eles raspam a cabeça e “Tyler”os chama de macacos espaciais(a contra-teoria de Darwin), martirizados, iguais, sem objetivos extra grupo.