domingo, 2 de dezembro de 2007

Revistas - Para todos os gostos



Existem revistas de nu artístico, pornografia, política, economia, esportes, música, animais, turismo, medicina etc. Entrar em uma banca de jornal é se deparar com um enorme cardápio de opções, digno dos melhores restaurantes da cidade. Que vão desde o gosto popular ao mais exótico. Quem não encontra algo para ler é por pura falta de interesse.

Numa época em que a Internet é o veículo de comunicação mais hypado, as publicações não param de surgir. Não é difícil explicar o fenômeno, embora conte com uma enorme popularidade a Internet ainda é inacessível a grande parcela da população, não possui a mesma credibilidade das publicações e as notícias são passadas de forma superficial, devido ao grande volume de fatos que chegam à rede em tempo real.

O mercado de impressos no Brasil é similar ao fonográfico. Como algumas bandas, certas revistas perduram por anos – “Veja”, “Superinteressante”, “Playboy”, “Istoé”, “Caras” etc. Outras permanecem em um cenário “underground”, não gozam de tamanha popularidade, porém contam com fiéis leitores – “Caros Amigos”, “Piauí”, “Carta Capital”, “Rock Brigade” (há mais de 20 anos a principal revista sobre música do país) entre outras. Tem espaço até para aquelas que fazem um enorme sucesso e depois acabam, caso da “Bundas”, idealizada por Ziraldo, que esgotou todos os primeiros exemplares no primeiro dia de venda, só que não durou mais de um ano.

Apesar de tantas opções e alguns números expressivos de vendagem, principalmente em publicações relacionadas à editora Abril, o preço não é agradável ao grande público. E piora quando comparamos com Estados Unidos e Europa, países em que custam em torno de 3 Dólares/Euros.

Com todos os revezes que poderiam existir, o mercado de impressos no Brasil continua forte, Talvez pela forte ligação que os brasileiros possuem com os jornais e revistas semanais, desde os primórdios do Jornal do Brasil e da Revista Cruzeiro. A morte da mídia impressa está bem longe e fora de foco, os pessimistas de plantão se esquecem que para todo tipo de arte há um público, e da mesma forma que o cinema não acabou com o teatro, dificilmente a Internet decretará o fim das revistas e jornais, afinal ambos oferecem algo impossível a tecnologia (pelo menos a atual) que é estar com você em qualquer lugar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Flamengo - imagens

Super-8 (ou Super 8 mm) é um formato cinematográfico desenvolvido nos anos 1960 e lançado no mercado em 1965 pela Kodak, como um aperfeiçoamento do antigo formato 8 mm, mantendo a mesma bitola.

O filme tem 8 milímetros de largura, exatamente o mesmo que o antigo padrão 8 mm, e também tem perfurações de apenas um lado, mas as suas perfurações são menores, permitindo um aumento na área de exposição da película, e portanto mais qualidade de imagem. O formato Super-8 ainda reserva uma área, no lado oposto ao das perfurações, onde uma pista magnética permite a gravação sincronizada do som.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Carrie, a estranha.

A década de 70 foi com certeza a melhor do cinema, vários gênios cinematográficos do século em pleno processo criativo, grandes atores despontando, estúdios pouco interferindo nos roteiros e o principal - público com uma cabeça mais aberta. Foi também na década de 70 que se deu início ao maior uso da violência, nudez e sexo nos filmes. Fruto de uma geração que pregou uma maior liberdade de expressão? Talvez.

No ano em que "Carrie" foi realizado, Brian de Palma e Stephen King eram duas estrelas em ascensão, no cinema e na literatura respectivamente. Esse filme acabou sendo o primeiro grande sucesso de De Palma e o primeiro livro de King a se tornar filme, depois do sucesso sucederam-se vários. Vale mencionar: "O Iluminado" de Stanley Kubrick.

No filme, Carrie White, uma colegial tímida, criada na ignorância sexual pela mãe (Piper Laurie), uma fanática religiosa. A garota surta quando menstrua pela primeira vez, tornando-se motivo de chacota das colegas de escola. Mas Carrie (Sissy Spacek) tem poderes telecinéticos, é capaz de mover objetos com o poder da mente. Então decide usar tal talento para se vingar daqueles que ela julga a terem feito sofrer.

Graças ao talento de Brian de Palma esse é um grande filme, usar uma obra do mestre do medo - Stephen King, não é garantia de sucesso nem de qualidade. O diretor americano é considerado um mestre das imagens, e nesse filme ele faz jus a essa fama. Sempre com enquadramentos e planos-seqüências brilhantes além de sua marca registrada, a justaposição de imagens em apenas um quadro, ou seja, quando o diretor divide a tela em duas ou mais partes.
Criticado na época pelo excesso de violência, o filme apresentou muito mais do que sangue (ainda mais se compararmos com os trabalhos atuais): a fragilidade e os poderes de Carrie foram magistralmente retratados, criando a tensão necessária para arrebatar o espectador. O enredo vai crescendo de tal maneira que fez com que a "resposta" da personagem, rejeitada pela mãe e por todos, tivesse sentido.

"Carrie, a estranha" é um filme na medida certa, agrada a todos os tipos de fãs do cinema, não é como se distrair, o ritmo do filme é impressionante por mais "soturna" que a obra seja. Graças à edição bem-feita e ao talento do diretor. O filme possui algumas cenas clássicas como o plano de dois minutos antes do clímax do filme e a protagonista banhada de sangue de porco em meio a premiação do baile de formatura (cena inúmeras vezes copiadas em outras produções).

Mesmo que você não seja fã do gênero terror, confira o filme, é bom ver grandes atores no começo das suas carreiras com Sissy Spacek (indicada ao Oscar por este trabalho), John Travolta (canastrão demais nesse filme) e Amy Irving (linda quando nova).



sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O Labirinto do Fauno - Guillermo del Toro


Atualmente os mexicanos vêm fazendo bonito quando o assunto é sétima-arte, logo se tornaram os principais executores entre os latinos americanos e conquistaram uma audiência cativa nos Estados Unidos. Entre essa leva de atores e diretores que surgiram a partir do final da década de 90 estão Guillermo del Toro, Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñárritu, Maribel Verdú, Gael Garcia Bernal, Diego Luma etc.

“O Labirinto do Fauno” de Guillermo del Toro foi escolhido para esse review, que é o primeiro da série de análises de filmes latinos.

Uma menina e sua mãe se mudam para uma região da Espanha onde ainda há combates da Guerra Civil, ambas passam a viver em uma mansão de propriedade militar. No jardim da casa em que agora reside a garota encontra um labirinto, que a leva a um mundo de fantasia.

É nesse tom fantástico que Del Toro constrói sua narrativa, com um roteiro criativo e com uma alta-qualidade de ambientações, figurinos, fotografia e efeitos-especiais, o diretor nos dá um belo espetáculo visual, não ficou nada a dever as produções norte-americanas e européias, o que ficou provado no Oscar.

O diretor através da mescla do real com o imaginário consegue criar uma poesia de tons melancólicos, seja pela situação da guerra ou pelas viagens imaginativas da protagonista que nos mostram o quão dura é uma situação de conflito e a forma na qual a menina lida com as mudanças que ocorrem no seu mundo.

O que é o trunfo do filme para alguns, para outros é ponto fraco. Muitos consideram um erro a mistura do real com imaginário e o fato do filme não “se decidir” entre adulto e infantil. Uma heresia por parte destes, como se no cinema fosse proibido alçar vôos com a imaginação, precisasse de explicações e finais sob medida como em uma novela.

Glauber Rocha certa vez disse que queria que os espectadores construissem o filme através da imagem que ele passava. Pena que muitos ainda tenham preguiça até de pensar.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Robert Bresson e Pickpocket

Robert Bresson fazia questão em nunca recorrer a atores profissionais. Optava sempre por amadores que eram submetidos a um método rigoroso que consistia na total depuração de todos os traços/tiques de ator que o intérprete viesse a ter. Bresson utiliza o termo "modelo", já que eles não têm nada dos atores - numa entoação sem inflexão: são as chamadas vozes brancas dos modelos bressonianos, que falam como se escutassem suas próprias palavras ditas por um outro. O seu objetivo consistia em transformar o intérprete numa marionete ao serviço do realizador, a quem cabia a tarefa de ditar todos os movimentos e gestos que o ator teria de tomar.


Tudo isto para satisfazer o objetivo de envolver o espectador no estado de espírito da personagem, não se distraindo com a sua aparência. Grosso modo, ao espectador não cabe o papel de juiz do que se desenrola diante dos seus olhos, mas sim o de simples testemunha de qualquer processo. Citando o diretor: “não se trata de dirigir alguém, mas de dirigir a si mesmo. Nada de atores. (Nada de direção de atores). Nada de papéis. (Nada de estudo de papéis). Nada de encenação. Mas a utilização de modelos, encontrados na vida. SER (modelos) em vez de PARECER (atores)”.


“Pickpocket” impressiona, com uma edição ao mesmo tempo ágil mas quase invisível, alternando a imobilidade e o movimento com grande destreza. As atuações estão praticamente omissas, mesmo assim transpõem enorme simpatia e cumplicidade ao espectador apenas com o olhar e as falas provando a qualidade do diretor. Mas, se por um lado as expressões e ações são tão contidas, um elemento se desprende do resto e parece assumir vida própria, que são as mãos. Tão presentes quanto os rostos, senão mais, as mãos estão sempre à fazer algo, por mais detalhado que seja, com destaque (é claro) para as cenas de furto.

Antigo cartaz do filme


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Homo Sapiens 1900 de Peter Cohen


"Homo Sapiens 1900" é um estudo contundente sobre as origens de uma terrível teoria científica que ficou conhecida mundialmente como Eugenia. Em rápidas palavras, a Eugenia nasceu na Alemanha, e pregava o puro e simples extermínio de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Física ou mental. A idéia básica era “purificar” a raça, impedindo a “proliferação” de seres humanos menos capacitados.

Através de Fades o diretor imprime ao documentário uma linha do tempo, que nos leva desde o início do século até a sua segunda metade, a linha é colocada entre esses fades com datas respectivas aos fatos ocorridos. Essa técnica ainda imprime uma aparência dos antigos projetores, os quais se trocavam as fotos ao clique de um botão, esse ar “vintage” exprime ao trabalho uma aproximação maior com a época do material que o diretor trabalhou para montar o documentário. “A forma mais simples, e ainda não desprezada ou rejeitada, é usar o lettering – legenda, fornecendo a data ou, simplesmente, o ano”.

Nem sempre, porém, o diretor conseguiu encontrar tomadas que traduzissem com riqueza o que é a eugenia. Por isso, em várias ocasiões, Cohen se viu obrigado a recorrer a imagens genéricas e a centrar força na narração. Como já demonstrara em Arquitetura da Destruição, ele é hábil em redigir textos informativos e impactantes. Para que o espectador possa assimilá-los, “Homo Sapiens” 1900 apela para um recurso: vez por outra, entra o som de um piano e a tela escurece completamente, até que a platéia recupere o fôlego e possa ir adiante.

Peter Cohen é um ótimo diretor, seu documentário “A arquitetura da destruição” é excelente. “Homo Sapiens” como cinema não é tão bom quanto mas devemos prestar toda a atenção na mensagem a qual o diretor nos passa. É sempre válido aprender com os erros do passado a fim de nos redimir.

sábado, 20 de outubro de 2007

Jogo de Cena

Em 2006, o cineasta Eduardo Coutinho teve a idéia de colocar um anúncio num jornal, procurando por mulheres que tivessem histórias para contar e se dispusessem a participar de um teste para cinema. Oitenta e três entrevistas ocorreram, das quais vinte e três foram selecionadas e filmadas. Posteriormente, atrizes foram chamadas para dar sua interpretação às histórias contadas pelas entrevistadas.

O filme em sua essência é bem simples, apenas uma câmera estática. Os depoimentos são relativamente semelhantes – Perdas, Traições, depressão etc. O trunfo do filme é descoberto quando notamos a presença de atrizes famosas (Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Mary Sheila) em algumas cenas. Alternando depoimentos reais com reencenações. O diretor joga o espectador num exercício de dúvida permanente. Eventualmente, as atrizes também são estimuladas a contar passagens de sua própria vida, contribuindo para uma maior semelhança entre o real e o fictício. As surpresas são freqüentes, a instabilidade é constante.

O diretor conseguiu criar um filme diferenciado, no qual documentário e ficção se misturam a todo momento. A habilidade de Eduardo Coutinho em entrevistar faz com que as mulheres se sintam a vontade frente às câmeras e assim ele consegue extrair o melhor de cada uma. O filme acaba sendo prejudicado pelo excesso de “personagens”. Nem todas as histórias ali retratadas são interessantes. Uma edição mais “enxuta” faria bem ao filme pois assim não perderia sua força em nenhum momento.

Jogo de Cena é um bom filme. E suas maiores qualidades vêm do que não é visto, ou seja, do conceito, do que não está em cena.