segunda-feira, 30 de julho de 2007

Uma pequena introdução ao Surrealismo



No surrealismo podemos quebrar a realidade, já que ela não precisa se adequar a moldes pré-estabelecidos pelo ditame do real. Isto se faz em contraste à não-ficção, que reivindica ser factual sobre a realidade. Devido a essa ruptura a ficção não tem compromisso com o tempo, o que não é real não envelhece, o que é simbólico não perde sentido. Isso é um grande trunfo da arte surrealista, o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Estilo que tem como características uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos.

A arte de Salvador Dalí sempre será atual, não há como definir suas formas, os que tentam esbarram em meras especulações que não são aprovadas pelo autor, os surrealistas não possuiam pretensão em deixar explicações de significados, cada tem sua própria conclusão diante de um trabalho. O que não tem explicação, forma definida e apego a uma época não pode ser datado. Andy Warhol por mais moderno que seja nunca conseguirá ter a mesma vivacidade de um Dalí.

sábado, 14 de julho de 2007

Análise do documentário: "Entreatos"


“Entreatos” é um documentário de quase duas horas que flagra os bastidores de um dos principais momentos da política brasileira. A chegada de um ex-líder operário à presidência de uma república. A intenção original de João Moreira Salles era acompanhar a campanha apenas durante o segundo turno, quando Lula enfrentaria o candidato José Serra. Mas, diante da possibilidade muito elevada de uma vitória de Lula já no primeiro turno, o início das filmagens foi antecipado.


A equipe de filmagem desfrutou de um acesso inédito em documentários do gênero. Foram filmados comícios, carreatas, traslados, entrevistas coletivas, gravações de pronunciamentos e de programas eleitorais, reuniões privadas, encontros familiares, camarins, elevadores, telefonemas etc. Ao público que assiste o documentário “Entreatos” é dado o direito de perceber as negociações, os conchavos, os apoios, o discurso milimetricamente elaborado para atender as demandas dos públicos aos quais se destina, a gravação dos programas que irão ao ar na propaganda política gratuita e até mesmo todos os acertos e ajustes necessários antes, durante e depois dos debates televisivos com os demais candidatos. O material filmado era guardado em cofres e não teve nenhuma divulgação até que o filme estivesse finalizado.


João Moreira Salles se fez de rogado e bom-moço logo após o escândalo do mensalão deflagrado por Roberto Jefferson, adiou por um bom tempo o lançamento do filme até que segundo suas palavras: “todos os envolvidos fossem julgados”. Porém o que mostra o documentário não é prova nem motivo para incriminar ninguém. Não ocorre nenhuma conversa mal-intecionada ou duvidosa, são apenas os personagens daquela trama política que mais tarde viria a se sujar, discutindo assuntos inerentes à campanha, se havia algo de comprometedor foi barrado por Zé Dirceu no momento em que impede que uma reunião seja documentada. Com esse jogo de cena todo, o diretor conseguiu atrair uma enorme atenção para o seu documentário, os media e a oposição em geral devem ter aguardo ansiosamente pela exibição da obra na expectativa de cenas comprometedoras e reveladoras que no final não haviam, o que estava documentado era apenas o lado divertido e bem-humorado do presidente.


Na abertura do filme estão incluídas todas as peças chaves do escândalo do mensalão, vendo as imagens é impossível negar que Lula tivesse um relacionamento próximo com pessoas como o ex-ministro chefe da casa civil – José Dirceu e o publicitário Duda Mendonça porém isso só serviria de material para meios sensacionalistas já que essa estreita relação já era sabida pelos membros do congresso.


Embora por mais que o diretor tenha tentado passar a imagem de documentário político a produção o que se destaca é o lado cômico do então candidato Lula, que domina a fita inteira,elos membros estava documentado era as e reveladorasil e ençtes undamento pol, vemos aqui um candidato brincalhão, contando histórias e satirizando outros políticos, não há como não rir em vários momentos, destaque para quando ele diz que pretende colocar “uns cabritinhos no palácio” para deixar a residência do presidente mais animada, além de histórias de quando era operário e bebia pinga barata antes do serviço.


O humor-negro nessa história toda foi quando cenas previamente editadas do documentário foram usadas para prejudicar a imagem do predisente, o fato é que essas cenas foram usadas apenas em 2006 e sem nenhuma relação com o caso da compra dos deputados, Moreira "defendeu" um lado e a oposição atacou outro, a cena em que Lula se irrita com os fotográfos foi divulgada pelo superestimado site Kibeloco e alcançou altissímos níveis de visibilade no site de hospedagem de vídeos - Youtube.


“Entreatos” é um bom documentário, embora com certo relaxo na parte técnica, o som altamente ruidoso e a câmera tremida evidenciam um cinema-verité amador por parte do diretor. Despido de preconceitos o filme traz bom momentos e não cai no comum, se João Salles tinha a inteção de fazer uma obra de cunho político, fracassou, mas deixou como registro o que talvez sejam as melhores imagens do político mais popular que o Brasil já teve.

"Clube da Luta" - Visão através de Nietzsche e Schopenhauer


Resumo da Análise dos principais Highlights do filme.

(Caso queiram a análise completa, que não cabe aqui, pedir por e-mail. Grato)


O filme “clube da luta” dirigido por David Fincher, o mesmo de Seven, é estrelado por Brad Pitt (indicado ao Oscar por "Os doze macacos"), Edward Norton (indicado ao Oscar por "A outra história americana”), Helena Bonham Carter (indicada ao Oscar de melhor atriz por “Asas do amor”). Jack (Edward Norton) é um executivo bem-sucedido que possui problemas psicológicos e encontra sua cura ao ver sua superioridade de saúde, e assim sentindo sua vida, em sessões de terapia de grupos para pacientes terminais de câncer.

Diante do desespero no qual se encontra, ele inconscientemente manifesta seu superego o qual se chama Tyler Durden (Brad Pitt). Este por sua vez o faz acordar do mundo de ilusões e fantasias no qual vive, fazendo-o quebrar as regras, as quais ele não escolheu, para conseguir se libertar dos grilhões da sociedade capitalista.

A vida do homem, segundo Schopenhauer, é “uma morte perpétua”. O tempo, com seu escoamento, acompanha o ritmo de “sede inextinguível do desejo”. Quando o desejo se detém é o tédio. Quando o tédio se detém é novamente o desejo. Schopenhauer considera toda a atividade humana sob a ótica da existência ligada ao desejo. Mesmo as “atividades de nosso espírito” são “um tédio que expulsamos a cada momento”.

“A vida oscila, portanto, como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento ao tédio”. O movimento da vida está submetido ao movimento do desejo, e o desejo “tem por princípio uma necessidade, uma falta, logo, uma dor”. O tédio é o mal do tempo. Schopenhauer diz claramente: “esta existência, uma vez assegurada, não sabemos o que fazer dela, nem em que empregá-la”. O tédio é o fundo vazio que surge quando tudo parece satisfeito.

Para o nosso anti-herói a vida vem em pequenas doses, ele nunca havia experimentado grandes sensações, relacionamentos e conhecimentos, tudo era muito simples e descartável como seu emprego e até sua existência naquele dado momento.

O momento chave no filme ocorre quando Jack vê o seu superego, Tyler Durden, até então ele aparecia como pequenos flashes – Talvez Jack ainda não estivesse preparado para externar seu outro lado, colocar em prática sua vida dupla.

Podemos afirmar desta maneira que no filme, o Fenômeno do surgimento de Tyler dá-se devido à enorme necessidade de Jack ter maiores satisfações em sua vidinha comum e rotineira. Tyler é a força interior que o impulsiona rumo à ultrapassagem dos limites do certo e do errado. O desejo é o elemento que nos faz evoluir de um estado letárgico. Schopenhauer afirma em sua teoria do desejo que toda a satisfação advém de um estado anterior de insatisfação ou de necessidade. Jack passará por um processo semelhante ao de Buda, que deixou seu palácio para ter conhecimento do mundo real.

Da união dessas duas personalidades nasce o "Clube da Luta" que passa a ter grande influência na vida de seus freqüentadores, ele passa a ocupar o vazio da vida simplória, tudo passa a ter mais sentido depois do Clube. Ele não resolvia nada apenas acabava com importância exarcebada dos fatos inúteis inerentes à vida. O problema da verdade ganha agora um sentido diverso, a falsidade ou a verdade não é a questão, mas se o juízo favorece ou não a vida, se conserva vida, se a torna maior. A vida é uma multiplicidade de significados e perspectivas que dependem de um jogo de forças.O que estará em jogo será a expansão da vida.

O Clube da Luta é a psicanálise da cultura aplicada. Tyler é o novo Freud. A diferença é que Freud se dedicava a diagnosticar a natureza dela, Tyler a cura. Ele demonstra as conseqüências de interpretar Freud e Nietzche literalmente e te pergunta se as conseqüências são absurdas. A civilização não é tolerada, mas sim dizimada. A catarse não pode ser encontrada conversando num sofá, mas sim matando um terapeuta. O assassinato só pode ser completo pela transferência de Freud. Transferência é o fenômeno pelo qual as emoções que o paciente sente pelos pais são expressas para o terapeuta. O narrador glorifica sua fantasia cometendo um patriocídio, se libertando da fixação no estado fálico e tomando posse de Marla. O novo Freud é um mártir para seu paciente.

Jack para autoprovar que estava vivo se queima, no começo o que era uma loucura se demonstrará um processo de aprendizado, embora ele lutasse sempre e se sentia melhor com isso ainda não havia experimentado o que era realmente estar vivo, experiência que ele sentirá melhor mais tarde após um acidente automobilístico. Nietzsche vai até a raiz da existência, pois a origem da vivência é a dor. O ente é um por fazer, é a necessidade de ser ação, isto é esforço, conquista, realização, enfim, atividade de dor. Descer na dor é descer na raiz de vida, de existência, porque dor pode ser identificada com terra, finitude e limitação, enquanto que a superação é identificada com céu, ilimitado e além. A busca pelo ilimitado se torna desesperante, desde que tudo é indeterminado, pois na medida que faz se interpela.

A casa que no início do filme era apenas moradia passa a ganhar vida e se torna o quartel general do projeto, projeto o qual era responsável por atos que quebravam com a rotina da cidade. O Projeto Mayhem é libertação do Clube da Luta para as ruas. Ele rompe com as regras pré-estabelecidas.

Mesmo após descobrir todos os planos e tudo o que aconteceria seria devido a sua própria armação, Jack entra em desespero, mas era tarde, o plano já estava consolidado. Visava atingir o maior símbolo do estado capitalista, o dinheiro. Jack planejara derrubar os prédios das empresas de cartão de crédito causando um enorme caos. O ato simbólico representaria seu maior conceito que é “Você não é o que possui”. Antes do fato se concretizar Jack finalmente assume suas duas vidas, não matando Tyler como possa parecer, mas atirando em si próprio ele dispensa a ajuda do seu superego, ele já havia tomado a forma de Tyler Durden interiormente, já havia se tornado as duas personalidades.
“A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles...” (Álvares de Azevedo, 'Macário').


Análise do documentário: "O Homem-Urso"




Este não é mais um documentário clichê no qual a beleza da natureza sairia ressaltada e o homem maravilhado com as dádivas da criação do universo. Caso você queira esse tipo de material basta sintonizar a sua televisão a cabo nos canais que passam essa programação por várias horas ao longo do dia.

Timothy Treadwell, uma promessa do sonho americano que não deu certo, que chegou a conclusão que era melhor viver entre os ursos do que entre os humanos. Resolveu por contra própria e sem nenhum preparo acadêmico estudar e cuidar de ursos. Nada mais natural que Werner Herzog, renomado diretor de documentários se interessasse pela vida do ambientalista. Experiente e esperto, sabia que tinha um personagem poderoso nas mãos. O filme é, em sua maior parte, composto de imagens feitas por Treadwell ao longo dos seus últimos cinco anos de vida.

Por treze anos ele se instalou na península do Alasca durante o verão, às vezes acompanhado, e, nos últimos anos, com uma câmera na mão, com a qual registrou aquilo que chamava de pesquisa, já que apenas possui material gravado e nenhuma anotação que mostrasse ser resultado de um trabalho de cunho científico. Timmy permanecia junto dos ursos nas primaveras e verões,de alguns mantinha pouco mais de um metro de distância, às vezes arriscava um cafuné. Filmava e voltava para a Califórnia no inverno e no outono, época em que divulgava o seu material. Qual seria, então, a diferença entre Timothy e outros documentaristas da vida selvagem? A resposta é que Treadwell queria provar que os ursos são superiores à civilização. Em suma, nós mortais vivemos na barbárie, ao contrário dos ursos grizzlies (os mais ferozes ursos na face da terra).

Através de suas imagens, Treadwell se mostra melhor cineasta do que pesquisador ou ecologista, como o diretor definiu bem: “Há imagens que falam por si só”, em suas filmagens há momentos perfeitamente e registrados, muitos feitos de forma bem irresponsável, já que ficava dos animais a uma distância de enorme risco como em um dos principais highlights da fita quando ele praticamente treme de prazer ao filmar um urso defecando durante uma briga; depois, ele enfia os dedos no monturo, felicitando-se por tocar algo que “estava dentro dela agorinha”.

Por mais que o ambientalista se julgasse amigo dos ursos e achasse que estava ganhando a confiança dos animais, percebe-se que isso era fruto de sua imaginação e que, em vários momentos, ele esteve bem próximo do perigo. A Herzog coube selecionar o melhor material para o documentário, além de entrevistar os pais, amigos íntimos (muito poucos, por sinal) e a ex-namorada de Treadwell. O final foi como todos imaginavam: Ele foi devorado por um de seus "amigos" em outubro de 2003. Essa foi a primeira agressão do tipo registrada no Parque Nacional e Reserva Katmai. Esta é a lei da natureza que Treadwell não conseguiu entender. Por fim o protagonista conseguiu o seu intento.Está em outra realidade, sem medos, sem arrependimentos, sem glórias, o nada.

"O Homem Urso" não consegue mostrar quem foi Timothy Treadwell -- nem é esse o objetivo do filme. O que o diretor pretende é fazer uma investigação sobre o comportamento humano. O grande erro do filme, já que ele entra em uma verdadeira armadilha. O cineasta em alguns momentos parece estar protegendo os amigos e familiares de Timmy a não revelar o conteúdo de uma fita, muito estranha por sinal, a fita de acordo com o Werner e um médico legista que mais parecia um personagem de um filme de comédia, continha o áudio dos últimos minutos da vida de Timothy e sua namorada, o objeto vira o foco do documentário em certo momento porém ela nunca é ouvida, apenas relatos, revelar o conteúdo da fita não seria nenhum “crime” caso fosse feito com sensibilidade assim como fez perfeitamente Michael Moore com os vídeos da tragédia de Columbine . Esse intuito de proteção pode soar forçado para alguns já que na grande parte do filme WH traça Treadwell de uma forma caricata, bipolar e egocêntrico. O diretor foca em determinados aspectos em detrimento de outros logo a edição e montagem levam muitos a acreditarem que a realidade é aquela que está sendo ali mostrada, e por ser feita de forma pessoal/autoral é carregada de responsabilidades, como cita Felipe Pena: “O tecido atingido pela calúnia não se regenera. As feridas abertas pela difamação não cicatrizam. A retratação nunca tem o mesmo espaço das acusações. Creio que a primeira reação de muitas pessoas no começo da obra era de pena, diante da tragédia e já ao final tinham uma sensação diferente, como se o “Tarzã do Alasca” tivesse merecido esse final devido a vários atos irresponsáveis.
O que considerei antiético, já que o “ambientalista” não tem como se defender e aqueles que podem por ele interceder não parecem estar muito pré-dispostos a isso. É clara a sensação de frieza e desconforto dos pais ao darem a entrevista.

As maneiras de representar uma linha de tempo são autorais e na minha opinião, foi o grande trunfo desse trabalho, a forma sutil e inteligente que o diretor usou para representar o tempo. Rejeitando lettering ou clichês clássicos do cinema/documentário como folhas de calendário, momentos históricos relacionados aos anos correntes entre outros. O diretor usa o crescimento dos “amigos” de Timothy como o Urso e a Raposa, ambos no início do filme eram filhotes e vão crescendo juntamente com as imagens até aparecerem já na fase adulta. Através dessa montagem o diretor consegue com que captemos perfeitamente a ordem cronológica dos verões que Timothy passou com seus “amigos”.

No final minha impressão foi a de um filme com altos e baixos. Entre os baixos um médico agir como um ator de terceira linha ao apresentar seus fatos de forma ridiculamente cênica. Ou quando vemos a reação de Palowak ao receber de herança do amigo um relógio. Ou mesmo quando Herzog mostra a si mesmo ouvindo as gravações da hora exata da morte do casal. O melhor fica a cargo de Timothy que embora caricaturizado nos revela como alguém se impõe um regime de primitivismo utópico com o único intuito de negar sua condição de indivíduo, de ser social. Nos seus devaneios apresentados durante o filme vemos um homem em seu momento mais íntimo: o sonho. Momento o qual nunca deveria ser revelado contudo Treadwell nos providenciou despido de todos os preconceitos e máscaras. O anti-herói acabou como queria, longe da civilização que tanto lhe fez mal... Antes da lei dos homens, a lei da selva.