sábado, 20 de outubro de 2007

Jogo de Cena

Em 2006, o cineasta Eduardo Coutinho teve a idéia de colocar um anúncio num jornal, procurando por mulheres que tivessem histórias para contar e se dispusessem a participar de um teste para cinema. Oitenta e três entrevistas ocorreram, das quais vinte e três foram selecionadas e filmadas. Posteriormente, atrizes foram chamadas para dar sua interpretação às histórias contadas pelas entrevistadas.

O filme em sua essência é bem simples, apenas uma câmera estática. Os depoimentos são relativamente semelhantes – Perdas, Traições, depressão etc. O trunfo do filme é descoberto quando notamos a presença de atrizes famosas (Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Mary Sheila) em algumas cenas. Alternando depoimentos reais com reencenações. O diretor joga o espectador num exercício de dúvida permanente. Eventualmente, as atrizes também são estimuladas a contar passagens de sua própria vida, contribuindo para uma maior semelhança entre o real e o fictício. As surpresas são freqüentes, a instabilidade é constante.

O diretor conseguiu criar um filme diferenciado, no qual documentário e ficção se misturam a todo momento. A habilidade de Eduardo Coutinho em entrevistar faz com que as mulheres se sintam a vontade frente às câmeras e assim ele consegue extrair o melhor de cada uma. O filme acaba sendo prejudicado pelo excesso de “personagens”. Nem todas as histórias ali retratadas são interessantes. Uma edição mais “enxuta” faria bem ao filme pois assim não perderia sua força em nenhum momento.

Jogo de Cena é um bom filme. E suas maiores qualidades vêm do que não é visto, ou seja, do conceito, do que não está em cena.


terça-feira, 9 de outubro de 2007

Lapa, o Montmartre Carioca

Nascido em período colonial
O berço da boêmia carioca
Continua, como sempre, atual.
Lutando contra o tempo,
E sobrevivendo com talento.
Terraço de artistas e intelectuais
Que ali fizeram moda e história;
Até lutaram pelos seus ideais.
A lapa está guardada na memória
Das pessoas mais simples
Às mais abastadas.


Arcos da Lapa, Rio de Janeiro - Brasil

A Lapa nasceu ao redor de um aqueduto da época em que o Brasil era colônia portuguesa e não americana. Sua fama não sucumbiu ao audacioso projeto, ao contrário. Tão importante obra histórica brasileira passou a ser um adorno em suas ruas. Um ponto de encontro, onde namorados se encontram, mendigos se abrigam e jovens aguardam as filas do circo voador e Fundição Progresso.

Dizem que a praia é o lugar mais democrático do Rio de Janeiro – duvido muito, na Lapa não há as pseudo-divisões que tribos e grupos instauraram nas areias, se lá pode ser considerado um reduto, esse só pode ser chamado de reduto dos verdadeiros cariocas.

Como em todo bairro carioca, há mitos e lendas. Grande parte envolvendo seu mais famoso morador, Madame Satã. Negro, pobre e gay que até hoje é lembrado como o malandro mais célebre do local. Sua vida protagonizou até um filme, rodado nos antigos sobrados e famosas escadarias.

O Ressurgimento da Lapa no final da década de 90 não só fez renascer novamente um ponto turístico. Fez renascer o espírito carioca que estava “aprisionado” pela violência de nossas ruas. No bairro vimos ressurgir rodas de sambas e choro e o encontro de jovens pelas ruas. Até conversas intelectuais ocorrem nos finais dos shows no Beco do Rato, transcendendo as universidades e ganhando as ruas como em décadas passadas.